Não há de forma alguma nas clínicas esquizo a lógica do buscar a si mesmo, como se vê no marketing das clínicas psi.
Não há um Eu perdido a ser encontrado, na lógica de uma congruência, de uma autenticidade, como dizem os humanistas ou quaisquer clínicas da identidade.
A identidade sequer existe tal qual é colocada pela maioria das pessoas.
O que chamam de sujeito nada mais é do que um processo de assujeitamento e individualização, paralisação do desejo em torno de uma forma.
A clínica esquizo não é de forma alguma uma clínica da forma, da identidade, do eu constituído.
O esquizoanalista é sim um mecânico que faz torções, quebras, ligamentos, canalizações, mas não com o intuito de um encontro consigo mesmo, nem com o autoconhecimento.
Talvez as clínicas esquizo queiram produzir justamente o contrário, o encontro com o desconhecido em si, com o novo, com o que o corpo pode (a lembrar da pergunta-provocativa de Espinosa), com o devir, com uma perspectiva nômade e autopoiética.
Sim, criar uma multiplicação de maneiras criativas e ativas de existir não apenas uma lógica do eu idêntico a si mesmo. Não se quer o mesmo, mas a diferença. A capacidade de produzir diferença em meio às tentativas de homogeneização.
Quiçá criar estratégias para que o desejo funcione em seu aspecto criativo-ético-revolucioná
Produzir des-lugares ao que nos quer num lugar homogeneizado.
Há sempre as fugas, o que vai além, o que se pode ampliar em termos de potência de diferir.
Existir é diferir, nos diria Gabriel Tarde.
Produzir diferenças na maneira como se existe.
Portanto, não é nem nunca será objetivo das clínicas esquizo produzir autoconhecimento.
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Escrito-publicado em 22 de janeiro de 2018 – Página Esquizografias (Clique Aqui)