O quanto ainda temos a aprender com Spinoza? Esta questão parece ter sido tenaz durante todo o percurso filosófico de Gilles Deleuze, por meio dela elementos centrais de sua filosofia foram elaborados, reordenados, polidos. Deleuze nunca deixou de acreditar nos ensinamentos do mestre holandês e, sempre que pôde, alertou os seus ouvintes e leitores de que estávamos longe (ele se inclui na mesma situação) de compreender verdadeiramente o sentido do pensamento do ermitão de Haia. Manteve ao longo do tempo uma especial atenção por ele, e sempre, como afirma, guardou-o no coração. Estas são palavras e declarações que os leitores de Deleuze com certeza já leram em diversos de seus escritos, porém, o mais importante é reconhecermos até onde seguimos a preciosa indicação do filósofo francês.
Tal indicação nos leva não apenas a conhecer a crise metafísica do final do século XVII, mas também a entender a dobra epocal do presente. O exercício de interpretação de Deleuze não procurou apenas estabelecer o conteúdo histórico-filológico da obra de Spinoza, mas ousou ir ao plano intensivo dos conceitos onde dizer do ser tornou-se novamente possível. A inocência filosófica a favor da vida trouxe a confiança necessária na existência, esse é o voo ) de um pensamento que não mais se prende ao horizonte do transcendental ao estilo kantiano. Se isso é ingenuidade, então Spinoza e Deleuze são os mais inocentes dos filósofos, por isso mesmo os mais livres entre os filósofos e somente homens livres (como afirma Spinoza na Ética, proposição LXXI) podem ser gratos uns para com os outros. Quando Deleuze em Lógica da Sensação diz, lembrando Dostoievski e Sartre por tabela, que não se deve dizer que se Deus não existe então tudo é permitido, para ele é exatamente o contrário, pois é com Deus que tudo é permitido. Tal expressão sintetiza o que talvez lhes seja mais comum filosoficamente: a ausência de medo diante da liberdade. A existência não precisa da justificação moral, nem está encerrada na representação que a filosofia faz dela. Bem sabe Deleuze, reportando-se a Spinoza, que a tarefa da filosofia não reside apenas em conquistar a liberdade, mas também tem de criar a sabedoria para a suportamos. Sim!…, é necessário a coragem para dizer a verdade, porém, a coragem e a verdade são precedidas pela experiência da liberdade. (Wandeílson Miranda, Prefácio 3ª Edição, 2019)
Nietzsche já dissera, no parágrafo 12 da Terceira Dissertação da GENEALOGIA DA MORAL, que quantos mais afetos possuirmos sobre uma coisa, mais próximos estaremos dela e de sua objetividade, sendo um sinal de fortalecimento, do intelecto, possuir cada vez mais olhos diferentes. A razão, diz este pensador, se fortalece quando nos encontramos com a diferença. (…) A diferença pensada por Deleuze, como a expressão daquilo que difere de si mesmo, é o espinozismo com novos olhos e afetos. A determinação nunca pode ser dada de fora, ser exterior à substância ou ao Ser, para que a determinação apareça num ser indeterminado; se fosse assim, o efeito seria exterior e acidentalidade determinaria o Ser. (…) A tradução destes textos do curso de Deleuze, sobre Spinoza, é um índice que já estamos vivendo uma nova sociabilidade filosófica. Trata-se de uma nova prática: o encontro com a vida e a natureza através da lente de Spinoza. (Luiz Manoel Lopes, Prefácio, 1ª Edição, 2009).
PARA ACESSAR O ARQUIVO
BASTA CLICAR NO TÍTULO ABAIXO:
CURSOS SOBRE SPINOZA – Gilles Deleuze (Vincennes, 1978-1981)
Editora Universidade Estadual do Ceará, 3ª Edição, 2019.
TRADUÇÃO:
EMANUEL ANGELO DA ROCHA FRAGOSO
FRANCISCA EVILENE BARBOSA DE CASTRO
HÉLIO REBELLO CARDOSO JÚNIOR
JEFFERSON ALVES DE AQUINO