Michelle Menezes Wendling, psicanalista e professora adjunta do Departamento de Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), defendeu em 2010 a dissertação “Duas versões do desejo: Lacan, Deleuze & Guattari” como conclusão de seu Mestrado em Psicologia Social na Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Abaixo encaminho resumo dessa dissertação + sumário + link para acesso ao texto completo.
RESUMO
Este trabalho volta-se à delimitação do desejo como falta, no Seminário 7, de Jacques Lacan, e como excesso, no Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Lacan retoma a crítica freudiana ao “Amai ao próximo como a ti mesmo” para discutir alguns ideais que passaram a guiar o que ele denominou de pastoral analítica, voltada a promessas de felicidade e a uma espécie de ortopedia dos sujeitos. Uma das estratégias críticas de Lacan é o uso do estruturalismo, o qual é também um dos focos das críticas do Anti-Édipo. Ao inconsciente estruturado como linguagem, perpassado por uma falta fundamental, Deleuze e Guattari opõem o desejo como excesso. Ao abordarmos o desejo consideramos que:
a) é impossível criar, ou mesmo dizer, um conceito, bem como efetuar uma clínica sem que os coloquemos como política,
b) é impossível pensar conceito ou clínica sem vê-los como respostas a certas questões políticas,
c) é possível a indiferença em política ou em filosofia, mas não a indiferença à política ou à filosofia.
Assim, voltamo-nos a um estudo das relações entre o Seminário 7 e O anti-Édipo e alguns aspectos do cenário político-intelectual francês da segunda metade do século XX que contaram com a participação de Lacan, Deleuze e Guattari, com destaque para o “movimento” estruturalista. Além disso, voltamo-nos a um estudo do conceito de desejo como falta, cujas coordenadas são estabelecidas frente ao Outro. No jogo de proximidade-distanciamento do Outro, a proibição do incesto é colocada como fundamento da estruturação do inconsciente como linguagem. Os engodos produzidos neste jogo ligam-se à busca do objeto como um bem que se deve reencontrar. Mas o Bem Supremo é um bem proibido desde sempre e, como tal, condição de possibilidade do desejo. O desejo como excesso foi pensado a partir da escolha de Deleuze e Guattari pela perspectiva histórica, a qual tem como um dos resultados a defesa da posteridade da lei, contraposta à existência de uma Lei primordial da qual nasceria o desejo. Destas definições de desejo destacamos algumas implicações no campo da ética. Além de o Seminário 7 dedicar-se à ética da psicanálise, estabelecida como um “não ceder de seu desejo”, como contraponto direto à pastoral analítica e sua tentativa de apaziguar o desejo, O Anti-Édipo também é perpassado por questões éticas. Levamos em conta principalmente a discussão da psicanálise como uma teoria-prática sem álibi e do Anti-Édipo como um livro de ética não-fascista.