Mil platôs é o mais profundo trabalho político de Deleuze e Guattari. À primeira vista, ele parece, na verdade, um guia claro, pronto a responder a questões de avaliação e ação políticas. Deleuze e Guattari apresentam incessantemente dicotomias no campo social e político: o Estado e a máquina de guerra, o sedentário e o nômade, territorialização e desterritorialização, o estriado e o liso, e assim por diante. As distinções parecem proliferar infinitamente, mas todas elas giram em torno de um único eixo. O mundo é dividido em compartimentos e o texto nos convida a censurar um polo e afirmar o outro — Abaixo o Estado! Viva a máquina de guerra nômade! Se ao menos a política fosse tão simples.
No entanto, ao prosseguirmos na leitura, percebemos que Deleuze e Guattari complicam continuamente essa clara série de distinções. É importante reconhecer, em primeiro lugar, que os termos contrastantes não estão em oposição absoluta um com o outro (como se pudessem ser subsumidos dialeticamente em uma unidade superior). Os termos de cada distinção não são postos em contradição, mas sim em uma relação oblíqua ou diagonal, irreconciliavelmente diferente e desconjunta. Em segundo lugar, ao analisarmos cada par mais de perto, descobrimos que nenhum termo é realmente puro, ou exclusivo de seu outro. O Estado sempre contém internalizada uma máquina de guerra institucionalizada; todo movimento de desterritorialização carrega consigo elementos de reterritorialização. As próprias fronteiras que separam os termos emparelhados são, em outras palavras, vagas, continuamente em fluxo. Finalmente, o que parecia ser o caminho assinalado da liberação revela, por vezes, conter paradoxalmente a dominação mais brutal: o alisamento do espaço social traz, às vezes, uma rigorosa hipersegmentação; linhas de fuga revertem-se frequentemente em linhas de destruição, tendendo assim ao fascismo e ao suicídio.
Ao final, Deleuze e Guattari irão frustrar qualquer aplicação direta de simples fórmulas políticas. Eles dificultarão qualquer slogan ou palavra de ordem. E essa complexidade é parte da riqueza de Mil platôs enquanto análise propriamente política. A complexidade e as distinções flutuantes, oblíquas não necessariamente paralisam a ação política — por medo de que possamos ser impuros, cúmplices de nossos inimigos. Isto significa apenas que o pensamento político e a ação política não podem prosseguir ao longo de uma linha reta. A política de Deleuze e Guattari é melhor concebida como um zigue-zague que se move em diferentes ângulos de acordo com as contingências locais e em mudança.
Michael Hardt
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