Este livro reúne 15 textos escritos entre 1978 e 1993, que envolvem a tal ponto o leitor em seus questionamentos, dificuldades, descobertas, que por momentos se tem a impressão de estar lendo não um texto psicanalítico, mas um bom “policial”, em que se está ansioso por saber como o “caso” vai terminar. O leitor acompanhará a autora na descrição de como se deixou afetar pela fala do analisando, sentindo, às vezes, tédio, raiva, impaciência, chegando a ficar “fora de si”, mostrando os limites da dita escuta benevolente.
Texto das orelhas das capa e sobrecapa:
“Radmila Zygouris é uma psicanalista francesa de origem iugoslava. Foi membro da Escola Freudiana de Paris até sua dissolução por Lacan em 1978. Durante esse período, foi co-fundadora de uma das mais interessantes revistas de psicanálise, o L’Ordinaire du Psychanalysthe, publicada em Paris entre 1973 e 1978. A revista caracterizou-se por publicar textos não-assinados por seus autores, com o objetivo de criar um espaço no qual a palavra pudesse circular livremente. Atualmente, a autora participa do grupo Ateliers de Psychanalyse, do qual é um dos membros fundadores.
Em seus trabalhos, envolve a tal ponto o leitor em seus questionamentos, dificuldades, descobertas, que por momentos se tem a impressão de estar lendo, não um árduo texto de psicanálise, mas um bom “policial”, em que se está ansioso por saber como o “caso” vai terminar. Falando em “caso”, a autora chama a atenção para o fato de que o analista não leva vantagem alguma em brincar de médico, onde o “caso” seria, apenas, o paciente, e lembra que em psicanálise é importante nunca se esquecer de que o tratamento se funda numa relação intersubjetiva na qual o analista também se deixar afetar. Ao longo dos textos o leitor poderá acompanhá-la na descrição de como se deixou afetar pela fala do analisando, sentindo, por vezes, tédio, raiva, impaciência, exasperação, chegando a ficar fora de si, mostrando os limites da dita escola benevolente. Todo analista já viveu isso, só que ela ousa dizê-lo.
Ousa se expor, e se o faz, certamente não é por exibicionismo, e sim porque considera eticamente indispensável falar sobre aquilo que, efetivamente, acontece na clínica de cada um. Romper o silêncio, no que diz respeito às práticas privadas, tornar público as dificuldades da clínica, as novas demandas, é em sua opinião urgente e necessário. É por isso que, dando o exemplo, vem a público dizer o que ela faz, sabendo no entanto que nem sempre o que faz coincide com aquilo que julga dever fazer. Ao bom leitor não será difícil reencontrar as marcas deixadas por Freud, evidentemente, mas também por Ferenczi, Lacan, Winnicott, Searles, e alguns outros.
O texto de Radmila é escrito em francês, que não é sua língua materna, e foi traduzido para o português por alguém, cuja língua materna não é o português. Textos e tradução são atravessados pelo Danúbio. Só espero que o leitor possa curti-lo ao ritmo de valsa, ao som do Danúbio Azul.”
Caterina Koltai