Como era o imaginário da sociedade nos anos 1960/70 acerca do filósofo? Talvez a ideia que ainda se segue no senso comum: um sujeito trancafiado em uma biblioteca, fazendo centenas de questões sobre nosso universo? O filósofo, Gilles Deleuze (1925-1995), faz a diferença, pois se movimentou para diversos lugares em sua teoria e prática, se distanciando deste tipo de imaginário popular.
Deleuze, por um momento de sua vida, além de filósofo e cinéfilo, também foi ator, participando de um papel secundário no cinema. Sua amiga e diretora Michèle Rosier (1930-2017), ao iniciar sua carreira como cineasta convidou seu amigo para participar de seu primeiro filme. Ele prontamente aceitou vivenciar essa experiência, encarnando o personagem-filósofo Lamennais, no filme George Qui?, lançado em 03 de maio 1973.
O filme retrata a vida de George Sand, pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin (1804-1876), escritora francesa. Gilles Deleuze, como mencionado anteriormente, interpreta o papel de Hughes Félicité Robert de Lamennais (1782-1854), filósofo, teólogo e escritor político. Durante um período de sua vida Lammenais, amigo de Bakunin (1814-1876), foi fiel ao catolicismo, porém com o passar dos anos foi se tornando um grande crítico da instituição eclesiástica e do governo, desta forma se tornou de pensador com ideias religiosas à um pensador militante.
Uma raridade e ao mesmo tempo um privilégio assistir um filósofo, ainda mais, Deleuze, nas telas do cinema! É a partir deste momento-filme que realizei o recorte de dois trechos com a participação de Deleuze como Lammenais. Abaixo acesso ao vídeo.
Uma curiosidade: A filha de Deleuze, Émile Deleuze, é diretora de cinema e possui mais de 10 trabalhos em sua filmografia.
Georges Qui (1973) – Sinopse:
Aos 30 anos, casada, dois filhos, Aurore deixa a sua província e vai para Paris com Jules Sandeau (Jean-Gabriel Nordmann)… Torna-se jornalista, depois romancista, conhece um poeta de vinte e dois anos já famoso, Alfred de Musset (Yves Rénier), vai com ele para Veneza… Ruptura e de volta a Berry. Ela conseguiu se livrar de seu marido, o Sr. Dupin, e trouxe um famoso pianista, Frédéric Chopin (Pierre Kalinovski). Com os amigos, ela prepara a revolução – a de 1848. Mas a viagem a Paris é curta. O pianista se foi, então Aurore o substitui pelo pintor Manceau (Réne Féret) e continua escrevendo romances. Aurore, claro, é George Sand (Anne Wiazemsky).