Passados 50 anos da primeira publicação d´O anti-Édipo, nos meios esquizoanalíticos no Brasil fala-se muito, e de um modo às vezes fetichista, sobre o desejo edipiano e faltoso da psicanálise, contrapondo a ele, de maneira sentenciosa, o desejo maquínico e esquizofrênico pensado por Deleuze e Guattari. Já a psicanalista Monique David-Ménard, por outro lado, parece supor ter ajustado as contas com Deleuze e refutado a esquizoanálise, concebida por ele e Guattari, apontando-a como um mal-entendido dos filósofos que, por não interrogarem as paixões tristes, passam ao largo da clínica, não compreendendo que o paciente claudica. Além disso, segundo ela, Deleuze teria feito uma leitura equivocada da ideia kantiana de conflito ou oposição real, identificando-a com a contradição dialética, aproximando Kant injustamente de Hegel e colocando a psicanálise na linhagem filosófica que ele ataca, mas cuja lógica seria proveniente dessa falsa mistura.[1]
No entanto, apesar de toda a erudição e do corajoso empreendimento da autora suspendendo o silenciamento à esquizoanálise que a injunção de Lacan havia imposto aos seus alunos desde a década de 1970, soa defensivo o modo como David-Ménard conduz essa crítica, mesmo com a admiração, a leitura e o comentário de algumas obras de Deleuze. Será que o projeto de Deleuze e Guattari é apenas uma filosofia (mesmo que prática) e a psicanálise apenas uma clínica? Será que a psicanálise e a esquizoanálise formam uma oposição inconciliável como querem seus adeptos mais ortodoxos? Que no máximo, Deleuze poderia ensinar aos psicanalistas algumas percepções sobre a temporalidade nas psicoses, como quer David-Ménard?
Pensamos, ao contrário, que psicanálise e esquizoanálise são afins e que ambas contêm, ao mesmo tempo, apesar dos focos mais ou menos predominantes, uma clínica, uma ética, uma política, uma estética, uma antropologia e uma filosofia. Isso não quer dizer que sejam a mesma coisa e nem semelhantes, o que exigiria tornar preciso o ponto impossível de sua identidade e da sua parecença, seria um grande equívoco apagar as diferenças, embora haja uma aliança possível a partir dos seguintes aspectos: 1) pensam o humano e seu critério de avaliação singular implicado no real (campo pulsional ou campo de imanência e satisfação intensiva); 2) são pragmáticas do desejo, do uso da língua e das relações perspectivistas.
Se o desejo pulsional e sua satisfação foram emboscados, reprimidos e transformados em sintomas e mecanismos de defesa pelo recalcamento, pela introjeção dos interditos, pelo complexo de Édipo, a castração, etc., mantendo-se ainda insubordinado e resultando na angústia e no mal-estar, a partir do entendimento e da prática da psicanálise[2]; o desejo maquínico também encontra condições de estratificação que colocam impasses ao seu funcionamento esquizo em O anti-Édipo, havendo ainda o reconhecimento da existência dos desejos manifestamente fascistas e, de maneira geral, o reconhecimento da existência das categorias ideais, espécies de motores estacionários que se assentam sobre o corpo intenso e o campo metapsicológico. Assim é que ambas as perspectivas pensam um desejo processual, suas correntes, impasses e o risco concernente às categorias ideais que nos alienam da condição de avaliação imanente ao desejo, fixando-o em imagens.
Em Deleuze e Guattari, as máquinas desejantes estão diretamente ligadas ao funcionamento do que, na psicanálise, chamou-se de pulsões parciais. Tanto as máquinas desejantes quanto as pulsões, apesar da anarquia e da multiplicidade das fontes e dos objetos — e por isso mesmo —, são orientadas pelo critério íntegro da satisfação intensiva.[3] Porém, para Deleuze e Guattari, em uma operação de raspagem do inconsciente, é necessário tanto deslocar a atenção dos objetos parciais e das zonas erógenas para os fluxos e as máquinas que os cortam quanto não subordinar as pulsões parciais a um processo desenvolvimentista ou estrutural de edipianização a partir de um uso transcendente, ilegítimo, excludente e limitativo das sínteses do inconsciente, uso que na psicanálise implicava: fixar o sujeito onde não há senão processo, tratar os fluxos como pessoas globais ou objetos completos, e admitir apenas a máquina binária: homem- mulher, desejo heterossexual-homossexual, bissexualidade etc., em lugar de reconhecer o polimorfismo da sexualidade, os n sexos produzidos sobre uma superfície de registro que nos individua à maneira de acontecimentos.[4] A psicanálise teria descoberto e, em seguida obstruído e se tornado surda, de maneira ainda mais insidiosa, às máquinas desejantes.
Perdendo-se a dimensão do que é a força e do que é a fraqueza, o que é o desejo criador e o desejo já capturado (demanda), a ética ou a moral, isto é, na desorientação quanto à direção vitalista do desejo, fica compreensível um dos maiores desajustes entre as duas perspectivas e que se relaciona ao problema da cura na psicanálise, a qual acaba sendo referida, em uma observação polêmica de Deleuze e Guattari sobre a teoria e a prática psicanalítica, à passagem da neurose à… normalidade. Depois da extrapolação de Édipo, esse seria o segundo paralogismo da psicanálise, o duplo impasse em que ela cai:
“[…] o “double bind” não é outra coisa senão o conjunto do Édipo. É neste sentido que Édipo deve ser apresentado como uma série, ou como oscilando entre dois polos: a identificação neurótica e a interiorização dita normativa. […] E se um esquizo se produz aqui como entidade, é apenas como único meio de escapar a essa dupla via, na qual a normatividade é tão sem saída quanto a neurose, e na qual a solução é tão obstruída quanto o problema. […] Parece que o próprio Freud teve uma viva consciência do quanto Édipo era inseparável de um duplo impasse, no qual ele precipitava o inconsciente. Com efeito, lê-se numa carta de 1936 dirigida a Romain Rolland: ‘Tudo se passa como se o principal no sucesso fosse ir mais longe que o pai, e como se fosse sempre proibido que o pai fosse ultrapassado’. Isto é ainda mais visível quando Freud expõe toda a série histórico-mítica: num extremo, Édipo está ligado pela identificação assassina, no outro, ele está religado pela restauração e interiorização da autoridade do pai (‘restabelecimento da ordem antiga num novo plano’). […] Fica claro, portanto, que só se deixa um polo de Édipo para passar a outro. Não se questiona sair desta alternativa: neurose ou normalidade.”[5]
Mas — mesmo com os desvios por meio dos quais algumas psicanálises nos desnorteiam, largando-nos perplexos e incomodados no duplo impasse que remete a uma incapacidade de avaliar segundo o critério pulsional, já que somos empurrados da indistinção fusional e imaginária à castração simbólica e ao reconhecimento da falta, sofrendo da interiorização e da culpabilização proliferante da “latência”, capturados pela sociedade dos irmãos que colocou o Capital no lugar de Deus e do pai,: “O ouro é como o espírito da sociedade.”[6] — é necessário considerar que a prática psicanalítica também pode operar, e de fato opera, ao mesmo tempo, a partir da montagem de máquinas desejantes, da denúncia do mestre, da pragmática da língua e das formações do inconsciente, suas virtudes originárias. A psicanálise trabalha com os sintomas, sonhos, lapsos, chistes, atos falhos, negativas, como rastros e sinais de um inconsciente-problema, um inconsciente produtivo e a associação livre como instrumento para acessar um plano virtual, explorar os bloqueios e a medida desejante, avaliando sempre o sentido como direção perspectiva para além do senso comum e da normalidade, conduzindo o dizer por uma linha abstrata.
Atenção à sintomática e cartografia do fantasma, para onde isso vai? A clínica implica procedimentos analíticos relacionados às “linhas de um destino”, à criação de estilos, de línguas menores, à emergência de atos livres e à produção de diferentes modos de existência — às vezes à revelia do analista e das suas concepções do desejo ou do Complexo de Édipo. É uma questão de tendências, não só pensando diferentes analistas, mas as múltiplas tendências em cada um, os predomínios e as subordinações. Acreditamos que a psicanálise “edipiana” denunciada por Deleuze e Guattari seja uma caricatura, como faziam os expressionistas, pois exagerando certos traços eles obtêm um efeito de crueldade mais contundente, como o “estalar das correias do chicote de um carroceiro em fúria.”[7] Que não invalida a possibilidade de vez ou outra a própria caricatura entrar pelas portas da clínica. Talvez houvesse uma ideia fixa desse tipo nos anos 1960, uma proliferação absurda de Édipo diante do qual o desejo revolucionário ainda era posto em termos de revolta contra o pai, ou mesmo contra o Nome-do-Pai. Talvez houvesse uma espécie de mentalidade de seita, na qual os sectários estavam meio paralisados em torno do mestre, como se Lacan fosse uma serpente e seus discípulos fossem pássaros hipnotizados esperando o bote: “— Vocês não me ajudam!”, Lacan teria dito. Bom, aí está sua ajuda, manifesta na radicalidade que atravessou Deleuze e Guattari. Nada de soluções de compromisso! E, apesar disso…
Deleuze e Guattari oscilam paradoxalmente entre atração e repulsão em relação à psicanálise: combate ou agência real, maquínica e perspectivista. Os livros anteriores de Deleuze, sobretudo Sacher-Masoch: o frio e o cruel, cuja publicação original data de 1967, Diferença e repetição, de 1968, e Lógica do sentido, de 1969, estabeleciam um profundo e prolífico diálogo com a psicanálise, sendo lidos inclusive por Lacan, que os citava elogiosamente em seus seminários. Lacan chegou a convidar Deleuze para uma conversa, mas eles não estabeleceram uma amizade. Talvez o efeito-Guattari tenha produzido em Deleuze uma ruptura mais profunda com a psicanálise do que aquela que perturbava o próprio Guattari. Este último, aluno e analisando de Lacan, encerrou sua análise pessoal no ano da publicação d’O anti-Édipo, porém continuou exercendo sua prática psicanalítica.
No trabalho conjunto, eles vão notando os avanços teóricos e clínicos, mas também apontando o que acreditam ser alguns limites e impasses teóricos e práticos da psicanálise. Deleuze chegará a dizer, anos depois d’O anti-Édipo, que a esquizoanálise como cartografia e experimentação de agenciamentos coletivos de enunciação é uma antipsicanálise[8], todavia Deleuze e Guattari reconheceram que Freud, e com mais razão ainda Lacan, souberam ver que os pais não eram organizadores estruturais, como é sugerido pela ideia do Complexo de Édipo no seu sentido mais ordinário. Os pais são apenas indutores e como indutores podem ser substituídos por outras pessoas ou objetos, o que se deu a perceber quando Lacan e seus discípulos introduziram a distinção entre imaginário e simbólico e a função da mãe e o Nome-do-Pai. Mas ainda aí é como se fosse preciso sempre recorrer a um “terreno”, à representação orgânica filogenética ou simbólica que constituiria o estofo de uma vida.
“É fácil reconhecer que as figuras parentais são indutores quaisquer, e que o verdadeiro organizador está alhures, do lado do induzido e não do indutor. Porém, é aí que começa a questão, a mesma do ovo biológico. Com efeito, nessas condições, haveria outra saída que a restauração da ideia de um ‘terreno’, seja sob a forma de um inatismo filogenético de pré-formação, seja sob a forma de um a priori simbólico cultural ligado à pré-maturação? […] Os pais foram postos no seu devido lugar no inconsciente, que é o de indutores quaisquer, mas continua a se confiar o papel de organizador a elementos simbólicos ou estruturais que são ainda os da família e de sua matriz edipiana. E mais uma vez não se consegue sair disso: foi tão somente encontrado o meio de tornar a família transcendente.”[9]
Para Deleuze e Guattari, o organizador está do lado do induzido, cujo processo produtivo conecta, registra e consome múltiplos estímulos para produzir uma mais-valia das suas condições. Aí entramos na questão fascinante do influxo germinal: o ovo esquizo, cuja história é semelhante à do ovo biológico, ambos teriam sido malcompreendidos. Achava-se que a constituição do ovo biológico era provocada por “organizadores” específicos; no entanto, percebeu-se que diferentes indutores, ou as substâncias variáveis, provocavam os mesmos resultados. Além disso, as partes do ovo tinham componentes potenciais que eram independentes dos estímulos.[10] Esse conceito é a maneira de Deleuze e Guattari pensarem uma vida esquiza imanente à produção primária e ao campo pulsional, como condição maquínica da estrutura, a qual indicava um critério ainda neurótico de avaliação. As estruturas, em vez de organizadores universais, são territorialidades artificiais que sujeitam o maquinismo e que, portanto, tentam subordinar a esquize a um limite intransponível. Mas, além do limite, o ovo esquizofrênico, semelhante ao ovo biológico, não é percorrido senão por gradientes e concentrações, velocidades e lentidões, fluxos e cortes de fluxos, o ovo é uma multiplicidade apreendida como simulação incessante, a qual, assim considerada, sofistica o que se entendia na psicanálise por meio dos processos de identificação:
“Se a identificação é uma nomeação, uma designação, a simulação é a escrita que lhe corresponde, escrita estranhamente plurívoca, diretamente no real. Ela leva o real para fora do seu princípio, ao ponto em que ele é efetivamente produzido pela máquina desejante. Ponto em que a cópia deixa de ser uma cópia para devir o Real e seu artifício. Apreender um real intensivo tal como é produzido na coextensão da natureza e da história, vasculhar o império romano e os continentes descobertos para deles extrair esse sempre-mais de realidade, e formar o tesouro das torturas paranoicas e das glorias celibatárias – sou todos os pogroms e também todos os triunfos da história, como se alguns acontecimentos simples e unívocos se desprendessem dessa extrema plurivocidade: segundo a fórmula de Klossowski, é esse o “histrionismo” do esquizofrênico, o verdadeiro programa de um teatro da crueldade, a encenação de uma máquina produtora de real. Longe de ter perdido não se sabe qual contato com a vida, o esquizofrênico está mais próximo do palpitante coração da realidade, a tal ponto que se confunde com a produção do real.”[11]
O ovo é referido em Mil Platôs, de modo mais geral, à construção de um Corpo sem Órgãos: “você tem um (ou vários) […] você faz um […] é um exercício, uma experimentação inevitável”.[12] Na outra borda do platô, há uma passagem em que os autores o remetem ao que Freud chamava “plasma germinal quase imortal”, com a diferença, eles dizem, que Freud não teria entendido esse conceito de Weissmann por tomá-lo ainda pela via de uma representação orgânica. O ovo não é orgânico, nem é o óvulo ou a carga genética de ambos os pais, como o apresentam as representações conscientes, mas uma força inorgânica, um germe intenso que atravessa e faz coexistir as durações em múltiplos níveis virtuais, conectando-nos ao que Bergson chamava a totalidade do passado. Simultânea e paradoxalmente o Corpo sem Órgãos é também “pedaço de placenta extraído à mãe”, que “arranca da forma orgânica da mãe uma matéria intensa e desestratificada, sua ruptura perpétua com o passado, sua experiência, sua experimentação atuais”,[13] selecionando os fluxos segundo suas próprias condições desejantes a partir de graus de potência estranhos ao organismo, submetendo o organismo a acontecimentos dilacerantes os quais só se pode viver em estados larvais, isto é, ao modo do devir e da transformação.
A pulsão em Freud e Lacan, as máquinas desejantes e sua integridade de critério n’O anti-Édipo, a construção do CsO em Mil Platôs, são conceitos pelos quais pensamos a condição de avaliação do real, por onde a vida, portanto, pode entrar na linguagem de maneira mais precisa, já que são discernidos os falsos problemas e as misturas entre a pulsão e suas imagens, entre a construção de um corpo pleno e os riscos de neurotização, vício, paralisia, cristalização, quebra, fragmentação, catatonia, etc. Em um de seus últimos textos, após passar pelo acontecimento, o transcendental, o esquizo, o CsO, a imanência, Deleuze chamou isso de “uma vida”.[14]
O esquizo foi, portanto, um modo de Deleuze e Guattari repensarem a visão de mundo neurótica que orientava a psicanálise. Seguindo o que já fizera Jung, e de modo diferente dele, que sob o Édipo descobriu um inconsciente ideal, coletivo e povoado de arquétipos, eles recorrem ao esquizo não para submetê-lo ao Édipo ou justificá-lo por uma fixação pré-edipiana na qual a psicanálise o situa, como se ele fosse o resultado de uma privação ou de um repúdio à introjeção do Nome-do-Pai, mas para afirmar sua radicalidade anedipiana, a conectividade ou fluxão da produção primária, o critério do intensivo e o desejo revolucionário. Sabe-se que foram muito malcompreendidos e por isso será necessário distinguir o esquizo como personagem conceitual do esquizofrênico cronificado, como veremos.
Ora, Deleuze e Guattari nos dizem que a questão não é se o Complexo de Édipo existe ou não existe, porque temos certeza de que existe, de que ele está aí como produção social que serve às forças repressoras, capturando e desfigurando a produção desejante por meio da família, desviando o desejo ao submete-lo a categorias ideais: interditos e prescrições. O Complexo de Édipo é um dos acontecimentos (Jung diria arquétipos) da história-mundial que nos atravessa e estrutura, de saída estamos capturados no interior dele; o problema se torna, então, questionar se o desejo pode desejar outra coisa que não o incesto e seus sucedâneos imaginários e simbólicos e se uma vida pode se individuar de outras maneiras que não a maneira do Édipo, para além da onipotência destrutiva que o desejo incestuoso impele e que a castração simultaneamente fixa e interdita. Aí entram as máquinas desejantes e suas relações de afinidade potencial, de composição e decomposição entre múltiplas perspectivas e os fluxos que passam entre elas. O próprio Complexo de Édipo e o interdito ao incesto, aqui, vão se aprofundar e horizontalizar na Terra ou evolar-se no Cosmos, nas grandes migrações, nas fases críticas de uma vida, nas passagens, na mudança das estações, na fome e na produção de alimentos, na convivência com os outros viventes, na amizade, no amor, nos fluxos de matérias intensas, nas pandemias, nas guerras, nas convulsões políticas, nas mudanças climáticas, no fim dos mundos, na queda do céu… ontologia plana, já que o que está em jogo no recalcamento originário não é o desejo da (ou) pela mãe e seu interdito, mas o interdito e o ofuscamento sobre o real pela incidência de ideais inadequados à vida, bem como uma condição de escolha e uma percepção mais ou menos estiradas, a dimensão do transpessoal como tem dito Suely Rolnik, cujo rigor exige de nós uma micropolítica ativa orientada pelo desejo revolucionário e pelo uso singular da língua. É esse campo imanente e os efeitos dele nos nossos corpos, os encontros das multiplicidades sobre essa pele coletiva, comum, compartilhada e transespecífica, que estão em jogo no mal-estar, no adoecimento, mas também na lucidez e na precisão de uma vida e de um processo analítico.
O esquizo, como um personagem conceitual e prática do desejo, foi muito malcompreendido. Deleuze e Guattari perderam amigos e admiradores, foram duramente atacados por supostamente desejarem fazer do esquizofrênico o novo herói revolucionário: “Honorável professor francês, bom esposo, excelente pai de dois filhos encantadores, amigo fiel […] queres que teus alunos e teus filhos sigam na “vida real” o caminho de tua vida, ou por exemplo o de Artaud que tantos escrevinhadores invocam?”[15] Mas seria preciso ouvir o devir de Van Gogh e outros esquizos que aprendem a navegar no deserto: “Tenho afinidade com o sol.” O esquizofrênico cronificado descreve na carne não esse processo, mas a parada ou a finalidade equivocada do processo. O autismo, por exemplo, seria uma interrupção deste tipo, deriva que faz derrapar e cristalizar o esquizo em um encapsulamento cujo limite tende à apatia, à despersonalização e à catatonia, justamente quando diante da desintegração psíquica alguém é possuído por uma ideal inadequado (força e representação) sobre a própria vida.
“O esquizofrênico aparece tanto mais específico e personificado quanto mais se imobiliza o processo ou quando se faz dele um alvo, ou ainda quando o fazemos operar no vazio indefinidamente, de modo a provocar esse “horrível extremo em que corpo e alma chegam a perecer” (O Autismo). O famoso estado terminal de Kraepelin… Ao contrário disso, desde que se consigne o processo material de produção, a especificidade do produto tende a dissipar-se, ao mesmo tempo que aparece a possibilidade de uma outra “efetuação”. Antes de ser a afecção do esquizofrênico artificializado, personificado no autismo, a esquizofrenia é o processo da produção do desejo e das máquinas desejantes. Como se passa de uma coisa à outra? A respeito deste e de outros pontos, Jaspers deu indicações as mais preciosas. Opondo o conceito de processo ao de reação ou de desenvolvimento da personalidade, ele pensa o processo como ruptura, intrusão, fora de uma relação fictícia com o eu, substituindo-a por uma relação com o demoníaco na natureza. Falta-lhe somente conceber o processo como realidade material econômica, como processo de produção na identidade Natureza = Indústria, Natureza = História.”[16]
Retenhamos essa “outra efetuação” ou essa contraefetuação ao compreendermos a diferença entre um processo desejante, avaliador, sem finalidade que corresponde a ela; e a parada deste processo quando ele é possuído e ancorado em um ideal, ou quando gira exasperado no vazio. Retenhamos ainda a relação com o “demoníaco na natureza” que substituiria uma relação fictícia com o eu por uma perspectiva da ruptura de uma integridade processual e a intrusão de forças incorporais estrangeiras. Não estamos distantes da concepção presente nos indígenas amazônicos, mas também em D.H. Lawrence,[17] do roubo de alma. Sem o espaço necessário para desenvolver esta hipótese, mas lançando-a como uma semente, a partir dos trabalhos do psicanalista João Perci Schiavon, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e das filosofias indígenas, questionamos se a força pulsional — voltando ao centro da psicanálise, perfazendo o circuito em retorno no qual ela contorna os objetos, lugar que é seu lugar sem lugar, dando notícias do real — não situa também o próprio campo analítico em uma base antropológica perspectivista e xamânica, sobre a qual cada pulsão singular convive com muitas outras forças do corpo e do espírito, humanas e não humanas.
As bases antropológicas da psicanálise até então foram sacrificiais (ligadas ao imaginário, à indiferenciação ou ao incesto com a mãe e à pulsão de morte assassina de Édipo) ou totêmicas (ligadas ao simbólico, à castração e a instauração da linguagem, o interdito ao incesto, as regras de parentesco e a monogamia). Seria possível pensá-la por meio de uma base perspectivista e real? Pensar a clínica como um devir-xamânico da língua? Parafraseando Pierre Clastres: seria possível pensar uma psicanálise contra o Estado?[18] Seria possível agenciar o xamanismo, a psicanálise e, por que não, a esquizoanálise: “Nós, feiticeiros…”,[19] levando em conta que essas perspectivas de diferentes maneiras operam com a prática de avaliação das afinidades potenciais, o devir molecular da percepção e a criação de uma microlíngua?
Lembremos — acreditem, é preciso — que nem Freud e Lacan, nem Deleuze e Guattari são deuses que sentenciaram verdades instituídas desde sempre e nas quais deveríamos acreditar inquestionavelmente. Quando se avança o horizonte recua. Não precisamos fazer suas ideias se baterem e se anularem umas às outras, mas podemos compô-las na medida em que servem ao nosso propósito clínico. Não há nada mais desagradável que a besteira envolvida nas mentalidades de seita. Esses dias escutei um psicanalista dizer que os ataques e as propostas provenientes da esquizoanálise são interessantes, mas inúteis, ela seria impraticável, que não se pode atacar a psicanálise, pois o dispositivo da associação livre é de uma contundência conclusiva e histórica, a partir da ultrapassagem da hipnose e da sugestão, para as quais não podemos voltar. Porém, tampouco a associação livre é a única ou a última palavra. Pensar assim é reificar e cristalizar a teoria e a prática da psicanálise, o que o próprio Freud afirmava não desejar. Tomar a experimentação proposta pela esquizoanálise como pura sugestão não é apenas imbecilidade, mas má fé. É traduzir mal um conceito e uma pragmática de uma perspectiva para outra. A análise dos estratos ou cartografia das linhas de uma vida promovidas pela esquizoanálise segue os rastros e sinais de um desejo latente e uma escuta de mundos porvir. A experimentação analítica é a construção em conjunto, em multiplicidade — pois ninguém, nem mesmo sozinho, fala sozinho —, de um agenciamento que funcione e que produza diferença em uma vida. Como fazer isso sem esmagar as máquinas desejantes com enunciados antropocêntricos e morais? Talvez a experimentação e a cartografias das linhas propostas pela esquizoanálise sejam um meio de tornar mais precisa a própria noção de associação livre. Assim, para estarem à altura da radicalidade da psicanálise, Deleuze e Guattari precisaram construir os conceitos de agenciamento maquínico de desejo e agenciamento coletivo de enunciação, o “falar com” ligado diretamente ao contágio de grupo e à possibilidade da emergência do desejo revolucionário (ainda que orientado por uma máquina abstrata singular), colocando-se contra a incansável e às vezes lamurienta análise do fantasma onde nos arriscamos a ser rebatidos de um polo ao outro do Complexo de Édipo: onipotência e impotência do imaginário fusional – castração simbólica e reconhecimento do desejo como falta-a-ser.
Sem apostas desejantes provenientes do inconsciente-órfão e aventureiro que emerge na relação analítica não há movimento. As apostas convocam atos, tentativas, gestos inusitados, como também derrapam no erro, no equívoco, na claudicação, os quais, ainda assim, reorientam o automovimento do desejo, expresso como aquilo que manca nos sintomas, e que se expressa de maneira mais refinada no uso pulsional ou uso menor da língua. Ignorar que as bases antropológicas sacrificiais e totêmicas da psicanálise implicam uma maneira de compreender e agir ou não agir no mundo, é não compreender que elas são o prolongamento teórico do antropocentrismo e o legitimam, sendo este então aparelhado por conceitos como falta, castração, desejo edipiano, interdito ao incesto e ideias como a da disjunção natureza-cultura, animal-humano e, portanto, da transcendência do desejo humano. O Complexo de Édipo e o rochedo da castração nos isolam em um mundo humano no qual “o animal”, este outro qualquer, foi há um longo tempo, no início do tempo cristão, posto por Deus sob o domínio do Homem, que deveria nomeá-lo.[20] O desconhecimento do real chegou a tal ponto que os múltiplos animais, como signos da alteridade, corpos vivos, palpitantes e inquestionavelmente produtores de afetos violentos, passaram a ser, nos nossos sonhos, ou mais provavelmente nos sonhos dos psicanalistas ortodoxos, repetições e efeitos sintomáticos do deslocamento e da condensação, tão somente fantasmas dos pais, derivados das séries representacionais do pai e da mãe.[21]
Aquilo que segue sendo determinante quando se monta uma máquina analítica é a importância das formações do inconsciente,[22] as quais indicam a produção desejante funcionando subordinada às condições das forças sociais repressoras. As formações do inconsciente são formações micropolíticas, afirma João Perci Schiavon, o que nos permite pensar a articulação entre os espaços intra, interpsíquicos e transpsiquícos, como também os efeitos das forças coletivas sobre nossa integridade pulsional. Os sintomas, como em maior profundidade as estruturas, implicam graus mais ou menos graves de cisão psíquica. Mas, ao indicarem o desejo recalcado ainda nas condições do recalque, as formações do inconsciente seriam rastros a seguir, ensaios da sublime-ação,[23] momentos de um dizer em curso que, na escuta pulsional, poderia atingir seu grau mais elevado de lucidez, o que Lacan chamou de “o bem dizer”,[24] manifesto no amor cortês e no misticismo, e que aqui compreenderemos, implicando-o na literatura e na própria análise, como o ato de dizer em si, ligado à satisfação e a auto-afecção. Portanto, o desprendimento da língua, a afinação da fala para além da falta e a cartografia dos sintomas e sinais provenientes do inconsciente e do campo social, confrontam a compulsão à repetição, afirmando a singularidade da produção do desejo. Empenha-se o corpo inteiro no dizer.
É considerando a atividade singular e extrapessoal do dizer; os agenciamentos coletivos de enunciação produzidos a partir das alianças que fazemos (a consideração das oscilações potenciais entre “falar com”, ser falado por ou falar por); e a avaliação ética e desejante das composições a serem feitas, que — ao contrário dos psicanalistas que recusam a esquizoanálise e esmagam o estreito vínculo da clínica com a política com o peso do Édipo universal e dos esquizoanalistas que se limitam à crítica caricata da psicanálise, perdendo a dimensão clínica do trabalho justo quando fica evidente ser a sintomatologia um produto da colisão do desejo com o campo social e o dispositivo analítico uma máquina potencialmente revolucionária — compomos aqui ambas as perspectivas levando em conta o empreendimento de Deleuze e Guattari como um aprofundamento e um aumento de precisão e consistência adquiridas por uma pesquisa afim da psicanálise. Afinidade não quer dizer aqui identidade, mas ressonância, sedução e afetação recíproca. Não seria a hospitalidade para com o estranho, em vez da hostilidade e do repúdio, a condição do pensamento e do exercício clínico? A questão vem sempre do estrangeiro, ela é posta de fora, emerge das relações de força entre os pontos de vista. João Perci Schiavon diz também, meio que brincando, mas sem se valer de metáforas, que assim como a física quântica ainda é física, a esquizoanálise ainda é psicanálise. Igual e diferente, disjunção inclusa. E acrescenta que a esquizoanálise submete a psicanálise a um banho de real.[25] Diríamos ainda: a esquizoanálise é um devir da psicanálise e vice-versa, que não envolve superposição, identificação ou conflito covarde, no qual se denega o adversário, mas uma implicação mútua que mantém provocações e potencialmente oscila da amizade à inimizade.
O guerreiro extrai a força do inimigo para se tornar cada vez mais preciso, mais íntegro, mais ágil, mais forte, mais resistente, mais vidente, mais impecável, para dizer como Castañeda.[26] Está em jogo, no perspectivismo clínico, o que os gregos chamavam Agon: esse demônio presente nos concursos, nos conflitos e nas disputas, sob a influência do qual os outros nos forçam a ser melhores, já que nos seus desafios convocam nosso próprio outro, o verdadeiro aliado.
Enfim, não nos interessa tampouco limitar a pragmática de uma língua menor que cava sulcos onde quer que haja uma língua dominante sob tal ou qual jurisdição — por isso não guardamos escrúpulos em nos aliar com os elementos que nos servem em cada perspectiva ao operar sua heterogênese de mão dupla. Transversalidade, sempre.
Tal imanência analítica,[27] antes de tudo, parte da convivência de todas as singularidades e modos de vida em um diagrama de forças, um campo de combate perspectivista; e de uma exigência ao mesmo tempo clínica e cosmopolítica, exercida em alto grau no ato afectivo de simbolizar e no uso eficaz das palavras, expressões de um dizer e de uma condição de avaliação desejante em curso. Freud, como nos ensina Suely Rolnik, foi um dos inventores da micropolítica. Foi ele quem primeiro analisou os efeitos micropolíticos que manifestavam na linguagem, por meio dos sintomas, dos sonhos e de outras formações do inconsciente, o mal-estar histórico, político e ecológico de que padecemos, estes sim os verdadeiros problemas. Naquele momento, mediante a escuta, ele praticava essa virtude superior da palavra: a hospitalidade incondicional ao estrangeiro. Coube a Lacan e depois (às vezes antes ou simultaneamente) a Deleuze e Guattari esgarçar as linhas desse pensamento disruptivo na direção de uma ciência do real e de uma vida (um dizer) para além do Eu e do Supereu.
Ademais, ao escutar de um amigo que Vladimir Safatle teria recentemente dito que a esquizoanálise é uma psicanálise heterodoxa, recordei-me da seguinte passagem formulada por Deleuze e Guattari: “A esquizoanálise não se propõe a resolver Édipo, não pretende resolvê-lo melhor do que a psicanálise edipiana. Ela se propõe a desedipianizar o inconsciente para chegar aos verdadeiros problemas. Ela se propõe a atingir essas regiões do inconsciente órfão, precisamente, “para além de toda lei” […] Consequentemente, não compartilhamos o pessimismo que consiste em crer que essa mudança e essa libertação só possam ocorrer fora da psicanálise. Ao contrário, acreditamos na possibilidade de uma subversão interna que faça da máquina analítica uma peça indispensável do aparelho revolucionário. E mais: para tanto, as condições objetivas parecem atualmente dadas.”[28]
Subversão interna? Deleuze e Guattari desejaram a reorientação da psicanálise e que esta pudesse transformar-se em “peça indispensável do aparelho revolucionário”. Certamente não sem um dedicado gesto de amizade, paradoxalmente simultâneo ao ataque, uma raspagem esquizoanalítica dos ideais neuróticos vigentes na psicanálise os quais ainda permitiam abrigo ao conservadorismo, a produção de subjetividade capitalista e os microfascismos; e que obscureciam a prática perspectivista do eu real.
Eis algumas das questões que têm orientado nosso pensamento para a agência entre o desejo avaliador, a língua menor e a máquina analítica, diante dos impasses e desafios surgidos no tempo presente e de uma aparente oposição inconciliável no processo da afinidade revolucionária que perpassa a psicanálise e a esquizoanálise.
NOTAS
- “[…] Deleuze põe juntos Freud e Kant pelo fato de que o termo conflito figura nos dois autores. E como este é, em Kant, empregado como sinônimo do termo oposição, ele faz de Hegel o continuador de Kant, ou de Kant o precursor de Hegel, para opor em bloco a essa orientação o infinitesimal leibniziano, que daria um melhor acesso a um inconsciente das pequenas percepções.” (DAVID-MÉNARD, Monique. Deleuze e a psicanálise. São Paulo: Civilização Brasileira, 2014, p. 258).
- Ainda que o isso, o estranho que bate à porta, fosse malcompreendido quando reduzido à vertente da pulsão de morte e da repetição do mesmo.
- Seria necessário diferenciar o esquizo como personagem conceitual, bricoleur que pratica esse critério intensivo e que monta variadas máquinas acoplando-se e desacoplando-se na medida em que avalia perspectivamente e segue os fluxos; do perverso, este que escapa do Édipo e da neurose, mas apenas para ser capturado em outras territorialidades artificiais ligadas aos fetiches. “Já sabíamos que o perverso não se deixa facilmente edipianizar: e por que o faria, se ele inventou novas territorialidades ainda mais artificiais e mais lunares que a de Édipo? Sabíamos que o esquizo não é edipianizável porque está fora de toda territorialidade, porque levou seus fluxos até o deserto.” (DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, Capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo: Ed 34, 2011, p. 94).
- Todas essas questões são postas à psicanálise e trabalhadas à maneira esquizoanalítica no segundo capítulo de O anti-Édipo. Cf. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, op cit, p. 73 a 110).
- Ibidem, p. 110.
- VALÉRY, Paul. Monsieur Teste. São Paulo: Ática, 1997, p. 29.
- MICHAUX, Henri. Misérable miracle: la mescaline. Paris: Galimard, 1984, p. 126 apud DELEUZE, Gilles. Foucault. 2. ed: São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 130.
- “A tarefa de uma verdadeira análise, de uma análise antipsicanalítica, é descobrir esses agenciamentos coletivos de enunciação, esses povos que estão em nós e nos fazem falar, e a partir dos quais nós mesmos produzimos enunciados. É nesse sentido que opomos todo um campo de experimentação, de experimentação pessoal ou de grupo, às atividades de interpretação psicanalítica.” (DELEUZE, Gilles. A ilha deserta e outros textos. Ed. David Lapoujade. São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 347).
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, op. cit., p. 127-128.
- Ibidem.
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, op. cit., p. 121-122.
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs. Capitalismo e esquizofrenia, vol. 3. São Paulo: Ed 34, 2012, p. 11.
- Ibidem, p. 31.
- DELEUZE, Gilles. Dois regimes de loucos. São Paulo: Ed 34, 2016.
- DELEUZE, Gilles. A ilha deserta, op. cit., p. 89.
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, op. cit., p. 41.
- Cf. LAWRENCE, D. H. Estudos sobre a literatura clássica americana. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
- Cf. CLASTRES, Pierre. Sociedade contra o estado. São Paulo: Ubu Editora, 2017.
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs. Capitalismo e esquizofrenia vol. 4. São Paulo: Ed 34, 2012, p. 20.
- DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. São Paulo: Ed. Da Unesp, 2002.
- Ver as análises que Deleuze e Guattari fazem do caso do pequeno Hans e do Homem dos lobos em “Um só ou vários lobos”, no volume 1 de Mil Platôs (São Paulo: Ed. 34, 2000) e no texto “O que dizem as crianças”, em Crítica e clínica (São Paulo: Ed 34, 2011).
- “As formações do inconsciente são dizeres tateantes, semi-ocultos, pelos quais se esboçam campos de experiência expressiva, territórios afetivos e de domínios existenciais. Estes, de modo geral, encontram-se fora do alcance de uma prática esclarecida. O peso dos recalques é imenso. ‘O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas.’ O lapso ou outra expressão privilegiada, ao mesmo tempo que desterritorializa pelo efeito de não senso ou de excesso de sentido, é signo de expansão territorial, anuncia novos estratos discursivos, evoca regiões de saber ainda inexploradas. Chave esotérica, abre portas secretas de entendimento e visão. É um bruxuleio de luz na noite escura.” (SCHIAVON, João Perci. O pragmatismo pulsional. São Paulo: n-1, 2019, p. 49).
- Nas suas aulas na PUC de São Paulo, as quais ouvi de 2015 a 2019.
- No livro Psicanálise sem Édipo?, ao proporem uma patoanálise como alternativa à psicanálise edipiana, os psicanalistas Thomas Geiskens e Philippe Van Haute retomam esse conceito, principalmente no capítulo 6, “Lacan e a jovem homossexual: entre a patologia e a poesia?”. Cf. GEISKENS, Thomas e VAN HAUTE, Philippe. Psicanálise sem Édipo? Uma antropologia clínica da histeria em Freud e Lacan. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
- Em suas aulas na PUC-SP.
- CASTAÑEDA, Carlos. A erva do diabo. São Paulo: Best Seller, 2013.
- Conceito desenvolvido por João Perci Schiavon em O pragmatismo pulsional, op. cit.
- DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O anti-Édipo, op. cit., p. 113.
JOÃO PENTAGNA. Escritor, esquizoanalista e psicólogo clínico com mestrado na Pontífice Universidade de São Paulo, realizado no Núcleo de Estudos da Subjetividade. E-mail: joaopentagnap@hotmail.com
FONTE
Texto publicado em “Psicanálise e Esquizoanálise: diferença e composição” (org. Anderson Santos, 2022, n-1 edições).