Foi Pierre Bruno que sugeriu o tema de minha conferência. Ele me propôs uma barra diagonal entre os nomes de “Marx” e “Lacan”. O que vou falar é minha interpretação dessa barra.
Examinarei o que há entre os respectivos campos de “Marx” e de “Lacan”, entre o marxismo e a psicanálise, do ponto de vista do próprio Lacan. As indicações de Lacan a esse respeito são tão variadas quanto numerosas, mas podem ser reagrupadas em quatro categorias: o abismo, a homologia, a compatibilidade e o avesso. Comecemos pelo abismo.
– Abismo –
Em seu Ato de Fundação, Lacan descobre um “abismo instransponível” entre Marx e Freud [1]. Esse abismo exclui não somente a tentativa freudo-marxista de aproximar e integrar os campos marxista e freudiano, mas também a propensão a confrontar os dois campos de maneira tal que um compreenda ou refute o outro. Os campos não podem se comunicar entre si desta maneira porque estão separados por um abismo que os torna inacessíveis um ao outro.
O abismo deveria impedir que marxistas e freudianos tentem desqualificar um ao outro. Como observa Lacan em seu Ato de Fundação, a “suspeita não dissipada” no campo de Marx nada pode contra a “esperança da verdade” no campo freudiano [2]. Reciprocamente, como reconhece Lacan em Respostas a estudantes de filosofia, “a psicanálise não tem o menor direito de interpretar a prática revolucionária” [3].
Os marxistas não deveriam se deixar afetar por interpretações psicanalíticas da revolução em termos de revolta contra o pai ou o Édipo não resolvido, assim como a psicanálise não deveria se preocupar pela sua caracterização marxista como pseudociência burguesa decadente. A censura de um campo não tem muito sentido para o outro campo, o que não significa que os campos devam se abster de se referir um ao outro. Lacan até vislumbrava uma espécie de interpelação mútua: ele mesmo colocava em questão Marx e o marxismo, mas também era receptivo às críticas marxistas da psicanálise.
Por exemplo, em Posição do Inconsciente, Lacan acha “justificado o preconceito que a psicanálise encontra no Oriente”, estimando que “cabia a ela não merecê-lo”, não se submetendo “ao tipo de interesse que a psicologia vem a servir em nossa sociedade presente. Da mesma forma, em Radiofonia, Lacan se alia aos marxistas ao censurar os psicanalistas por não quererem “nada saber da política”, embora eles “sejam bastante endurecidos para fazer disso uma profissão” [5]. Em ambos os casos, Lacan se junta aos marxistas que denunciam as implicações políticas da prática psicanalítica e sua cumplicidade com o capitalismo. Essa cumplicidade é evidente para Lacan, pelo menos no que diz respeito a uma certa psicanálise americanizada e psicologizada.
– Homologia –
Lacan utiliza o discurso marxista para criticar a psicanálise em lugar de se limitar a empregar argumentos freudianos para interrogar o marxismo. Ele pode assim transitar entre as duas perspectivas supondo uma profunda continuidade entre elas e não somente um vazio intransponível. De fato, há múltiplas afirmações nas quais Lacan sublinha tanto a diferença irredutível quanto a total coincidência entre Marx e Freud.
Em uma conferência de 1967 em Estrasburgo, Lacan observa que Freud tem “um prestígio da mesma ordem” que o de Marx, mas sem suas “consequências cataclísmicas” [6]. A diferença aqui reside apenas no fato de que a psicanálise não virou o mundo de cabeça para baixo como o fez o marxismo. No entanto, ainda que seus efeitos sejam diferentes, a causa marxiana e a causa freudiana coincidem naquilo para que são descritas da mesma forma, como causas imorais ou subversivas, como fatores de dissolução da sociedade burguesa, como sintomas de uma crise da modernidade, como expressões de uma “escola da suspeita”, e tantas outras coisas.
No seminário sobre a Lógica do Fantasma, Lacan especifica o que entende por prestígio da mesma ordem. Marx e Freud concordam em nos ensinar que “o sujeito é perfeitamente coisificado”, mas eles ainda diferem porque o triunfo de Freud é menos evidente, talvez paradoxalmente porque ele foi “mais longe” [7]. Então, Freud não produz grandes cataclismos revolucionários porque ele vai além de Marx, mas vão mais além na mesma direção marcada por ele, em direção à mesma concepção materialista do sujeito como coisa que pode reinventar-se, o que explica por que Marx e Freud têm um prestígio de mesma ordem.
O marxismo e a psicanálise podem ter as mesmas ressonâncias porque Freud vai no mesmo sentido que Marx. É por isso que Lacan já detectava em 1960, no seminário sobre A Ética da Psicanálise, um “lado marxista do sentido no qual se articula a experiência indicada por Freud” [8]. Lacan sabia, é claro, que Freud não era marxista, mas percebeu alguma coisa do marxismo numa via freudiana que se cruzava constantemente com a de Marx.
Como observa Lacan em seu seminário De um Outro a outro, o marxismo e a psicanálise passam pelos mesmos “pontos radicais”, embora “não se desenvolvam absolutamente, é claro, no mesmo campo” [9]. Existem dois campos separados por um abismo intransponível, mas também existem intersecções entre os dois campos. Os discursos marxiano e freudiano se cruzam nas mesmas coisas.
O marxismo e a psicanálise, em suma, são homólogos. Na terminologia lacaniana, homologia não é analogia, mas “trata-se da mesma coisa” [10]. É por isso que nos deparamos com coisas iguais, não apenas semelhantes, no campo de Marx e no de Freud e Lacan. Os dois campos são homólogos porque nos oferecem versões homólogas das mesmas coisas.
A homologia implica o que Lacan descreve como uma “identidade” de referência [11]. O que é idêntico são os pontos de intersecção entre marxismo e psicanálise. Vários desses pontos foram identificados por Lacan. Já evocamos o sujeito-coisa, mas convém também evocar o sintoma, o inconsciente, o sujeito e o objeto a. Ao vislumbrar tudo isso, Marx antecipa uma parte fundamental do que Lacan teoriza um século mais tarde.
O que restaria da teoria lacaniana sem o objeto a, o sujeito, o inconsciente e o sintoma? É revelador que Lacan tenha colocado esses conceitos não apenas no centro de sua teoria, mas no centro da relação entre ele e Marx. Nós confirmamos que essa relação é central na teoria lacaniana, o que justifica que nos detenhamos ao menos por um instante em cada um dos conceitos aos quais Lacan situa sua homologia com Marx.
O primeiro dos conceitos, que aparece já em 1946 em Formulações sobre a causalidade psíquica, é a verdade como objeto da “paixão de desvelar” de Marx, Freud e outros [12]. Essa verdade é associada vinte anos depois, nos Escritos, à ideia freudiana do sintoma como retorno do recalcado, como o “retorno da verdade na falha de um saber” [13]. Lacan insiste no fato de que tal ideia não foi inventada por Freud, mas por Marx, que soube desembaraçar uma verdade como a do capitalismo na sintomatologia de suas crises, de suas contradições e do sofrimento dos sujeitos.
Dois outros pontos de intersecção entre o marxismo e a psicanálise lacaniana, ambos enunciados em 1967 em A lógica do fantasma, são o já mencionado reconhecimento da coisa-sujeito e a consideração da “estrutura”, do “latente”, que Lacan atribuiu a Marx [14]. A consideração dessa estrutura faz de Marx o primeiro “estruturalista” [15]: o primeiro a refutar a possibilidade lógica de uma “metalinguagem” [16]. Ao mostrar que não se pode pensar fora da ideologia, da estrutura econômica e do horizonte da história, Marx já faz o gesto que Freud e Lacan repetem nos demonstrando que não há Outro do Outro, mas somente o lugar do Outro, o inconsciente como discurso do Outro, os significantes que reenviam a outros significantes e não a coisas ou significados, não à realidade ou à consciência.
Enfim, em 1968, Lacan situa sua homologia com Marx na “função do objeto a” que emerge com a interpretação marxiana da mais-valia e “se isola” na noção lacaniana de “mais-de-gozar” [17]. O único erro de Marx foi querer simbolizar e contabilizar esse objeto sob a forma da mais-valia, mas ele sempre soube que ali havia um objeto perdido e sem significação que resistia à toda simbolização, valorização e contabilização. Esse objeto da psicanálise também foi atribuído por Lacan a Marx, em 1972, em duas outras formas: em O aturdito, como uma “perda” implicada no “progresso” dos progressistas [18]; no seminário …ou pior, como um non-sens que “descolore” o idealismo filosófico hegeliano [19]. Se Marx é materialista e não idealista ou progressista, é justamente, para Lacan, porque ele descobriu o objeto que mais tarde será o da psicanálise.
Ao chegar em manifestações homólogas de coisas idênticas, os discursos marxista e freudo-lacaniano são também homólogos entre si. A homologia é aqui uma coincidência desses discursos no materialismo, no estruturalismo e na paixão pela verdade, mas também na poesia. Em 1977, no seminário O momento da concluir, Lacan descreve Marx e Freud, de fato, como poetas porque conseguem fazer passar a “relação sexual” em seus discursos, o que talvez explicaria os fluxos transferenciais para as instituições psicanalíticas e organizações comunistas [20].
– Compatibilidade –
Os marxistas e os freudianos vivenciam à sua maneira a homologia entre Marx e Freud. Eles se relacionam de maneira homóloga com seus mestres não apenas pelo amor, mas também por uma traição que assume diferentes formas em Lacan: em 1959, os marxistas e os freudianos traíram seus mestres ao idealizar o passado em uma “ficção pastoral” [21]; em 1960, ao professar o “preconceito burguês” do progressismo [22]; em 1964, ao aceitar as “falsas evidências” do eu e o bom senso da koiné [23]; em 1966, deixando-se levar pelo “humanismo” [24]; e em 1972 e 1973, confundindo seus legados com “visões de mundo” [25]. Se marxistas e freudianos podem assim coincidir nas suas traições, é porque também há coincidência no que eles traem. Marx e Freud concordam em alguma coisa que já pode ser definida negativamente como uma posição incompatível com uma Weltanschauung, com o humanismo, com o bom senso, com o progressismo e com as ficções pastorais.
Acontece, curiosamente, que para Lacan a incompatibilidade de marxistas e freudianos com seus respectivos mestres é maior do que entre Marx e Freud. Com efeito, para Lacan, não há incompatibilidade entre Marx e Freud. No seminário …ou pior, de fato, Lacan afirma inequivocamente que Marx e Freud são “perfeitamente compatíveis” e que, portanto, não faz nenhum sentido “ajustá-los”, muito menos “fazer entre os dois uma mixagem” [26].
Como tentativa de mixagem, o freudo-marxismo foi para Lacan apenas uma “confusão sem saída”, como disse em 1973 em sua Introdução à edição alemã dos Escritos [27]. Como não confundir os termos homólogos com suas referências idênticas tentando combiná-los ou misturá-los? É verdade que o marxismo e a psicanálise são compatíveis, mas isso implica no máximo, segundo a etimologia, compaixão, sofrer ou tolerar-se, talvez juntos, um com o outro, mas sem procurar suprimir o abismo entre um e outro.
– Avesso –
Sempre se pode perguntar por que se abriria um abismo entre duas manifestações da mesma coisa, entre duas coisas que são compatíveis e até homólogas entre si. Acho que a resposta lacaniana está na topologia do avesso. Freud e Lacan estão do outro lado de Marx. O avesso e o direito estão separados por um abismo, mas não deixam de ser dois lados da mesma coisa, dois lados complementares, homólogos, que remetem a uma identidade.
Lacan coloca mais de uma vez seu campo ao avesso do de Marx. Em primeiro lugar, no seminário De um Outro ao outro, ele invoca o conceito marxiano de “mais-valia” e “reveste inversamente a noção de plus-de-jouir” [28]. Mais tarde, no seminário intitulado precisamente O avesso da psicanálise, ele identifica esse avesso a um discurso do mestre cuja “manutenção” é assegurada por Marx [29] e que é “desengajado numa espécie de pureza” na política, a revolução e o marxismo [30]. Enfim, no mesmo seminário, Lacan nos diz que se pode ler Marx e “não entender nada” se não se lê O avesso da história contemporânea de Balzac [31]. O que encontramos neste romance de 1848, ao avesso das revoluções e lutas de classes com as quais se ocupava Marx, é um grupo secreto de caridade “sábia” e “fundamentada” que tenta elucidar as fontes mais íntimas da miséria única de cada um numa espécie de prefiguração da psicanálise [32].
O campo lacaniano do plus-de-jouir e do sintoma singular aparece como o avesso do campo marxiano da mais-valia e das tramas sintomáticas da história. Cada campo nos diz muito sobre o outro. Ele nos diz sua verdade, o que esconde em seu avesso, um avesso que “é consonante com a verdade”, nos diz Lacan [33].
De acordo com o que Lacan também observa em A ciência e a verdade, a psicanálise nos revela uma “dimensão da verdade”, a do “drama subjetivo”, que é a base da base do marxismo [34]. Essa ideia, fundamental para a teoria lacaniana e para sua relação com Marx, poderia derivar de uma leitura que impressionou o jovem Lacan, a do Caráter materialista da psicanálise de Jean Audard, que sustentava em 1933 que o marxismo, para ser autenticamente materialista, deveria aprofundar até a base material inconsciente “primitivamente sexual” da base consciente científico-tecnológica das forças produtivas, ou seja, ao nível do sujeito do qual trata a psicanálise [35]. Audard entrevê que aprofundar o discurso marxista é atravessá-lo e chegar até sua verdade, até seu avesso, até a psicanálise.
= À guisa de conclusão –
A intuição de Audard foi compartilhada por Siegfried Bernfeld, que também detectou o avesso freudiano do marxismo ao sondar as “pulsões” no fundamento inconsciente da economia [36]. Isso lhe rendeu as críticas de Wilhelm Reich, que preferiu penetrar nas profundezas socioeconômicas do inconsciente, vendo ali nele uma espécie de extimidade lacaniana, o que lhe permitiu chegar ao avesso marxista da psicanálise [37]. Conciliando Reich com Bernfeld, Otto Fenichel entende que no mundo exterior a economia é a base da psiquismo, enquanto que no mundo interior “a base material torna-se superestrutura” [38].
Em Fenichel, os mundos externo e interno são os mesmos, mas ao avesso, como na banda de Moebius ou na Garrafa de Klein. Se os freudo-marxistas tivessem conhecido a topologia lacaniana, talvez parecessem menos confusos à Lacan. Acho que alguns deles estavam num caminho certo atravessando os fantasmas habituais do marxismo e da psicanálise.
Audard e Bernfeld passaram por um certo economicismo marxista para chegar à sua verdade, seu avesso freudiano, a das pulsões e outros fatores que regem o sistema capitalista. Reich pôde atravessar por um certo psicologismo psicanalítico para chegar à sua verdade, seu avesso marxista, o de um sistema capitalista que cada vez mais subsume o sistema simbólico da linguagem, transformando o discurso e o gozo do Outro no discurso e gozo do capital. Fenichel soube como fazer as duas coisas diante do mesmo abismo.
Os freudo-marxistas enfrentam o abismo, não para preenchê-lo, mas para atravessá-lo. Audard, Bernfeld e Reich cruzam cada lado até o seu avesso. Fenichel se move sobre a superfície até que o mesmo lado se torne seu avesso através de sua torção moebiana. Quanto à Lacan, ele tenta desembaraçar tudo isso enunciando o que há entre os dois lados: o avesso, a compatibilidade, a homologia e o abismo.
Conferência realizada no Colóquio “Terminar com a psicanálise?” [En finir avec la psychanalyse?], organizado pela Associação Le Pari de Lacan no auditório IRIS, Paris, 12 de junho de 2022.
traduzido por Rodrigo Camargo.
NOTAS
[1] Jacques Lacan, « Acte de fondation », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 237.
[2] Ibid.
[3] Lacan, « Réponses à des étudiants en philosophie », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 208.
[4] Lacan, « Position de l’inconscient », in Écrits II, Paris, Seuil (poche), 1999, p. 313.
[5] Lacan, « Radiophonie », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 438.
[6] Lacan, « Conférence à la Faculté de Médecine de Strasbourg ».
[7] Lacan, Le séminaire, Livre XIV, La logique du Fantasme, 22.02.67.
[8] Lacan, Le séminaire, Livre VII, L’éthique de la psychanalyse, Paris, Seuil, 1986, 04.05.60, p. 246.
[9] Lacan, Le séminaire, Livre XVI, D’un Autre à l’autre, Paris, Seuil, 2006, 12.02.69, p. 172.
[10] Ibid., 27.11.68, pp. 45-46.
[11] Ibid.
[12] Lacan, « Propos sur la causalité psychique », in Écrits I, Paris, Seuil (poche), 1999, p. 192.
[13] Lacan, « Du sujet enfin mis en question », in Écrits I, Paris, Seuil (poche), 1999, pp. 231-232.
[14] Lacan, Le séminaire, Livre XIV, La logique du fantasme, 12.04.67.
[15] Lacan, Le séminaire, Livre XVI, D’un Autre à l’autre, Paris, Seuil, 2006, 13.11.68, pp. 16-17.
[16] Lacan, « Radiophonie », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 434.
[17] Lacan, Le séminaire, Livre XVI, D’un Autre à l’autre, op. cit., 13.11.68, pp. 16-18.
[18] Lacan, « L’étourdit », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 494.
[19] Lacan, Le séminaire, Livre XIX, …ou pire, Paris, Seuil, 2011, 08.03.72, p. 118.
[20] Lacan, Le séminaire, Livre XXV, Le moment de conclure. 20.12.77.
[21] Lacan, « À la mémoire d’Ernest Jones : sur sa théorie du symbolisme », in Écrits I, Paris, Seuil (poche), 1999, pp. 190-191.
[22] Lacan, Le séminaire, Livre VII, L’éthique de la psychanalyse, Paris, Seuil, 1986, 04.05.60, p. 246.
[23] Lacan, « Position de l’inconscient », in Écrits II, Paris, Seuil (poche), 1999, pp. 316-317.
[24] Lacan, « Note à ‘Subversion du sujet et dialectique du désir’ », in Écrits II, Paris, Seuil (poche), 1999, p. 308.
[25] Lacan, « Séance extraordinaire de l’École belge de psychanalyse », Quarto, n° 5, 1981, p. 12. Voir aussi : Le séminaire, Livre XX, Encore, Paris, Seuil (poche), 1999, 09.01.73, p. 42.
[26] Lacan, Le séminaire, Livre XIX, …ou pire, Paris, Seuil, 2011, 21.06.72, p. 224.
[27] Lacan, « Introduction à l’édition allemande des Écrits », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 555.
[28] Lacan, Le séminaire, Livre XVI, D’un Autre à l’autre, Paris, Seuil, 2006, 20.11.68, p. 29.
[29] Lacan, Le séminaire, Livre XVII, L’envers de la psychanalyse, Paris, Seuil, 1991, 17.12.69, pp. 33-35.
[30] Ibid., 18.02.70, p. 99.
[31] Ibid., 17.06.70, p. 219.
[32] Honoré de Balzac, L’envers de l’histoire contemporaine (1848), Paris, Librairie Nouvelle, 1860, pp. 84-85, 148.
[33] Lacan, Le séminaire, Livre XVII, L’envers de la psychanalyse, op. cit., 21.01.70, p. 61.
[34] Lacan, « La science et la vérité », in Écrits II, Paris, Seuil (poche), 1999, pp. 349-350.
[35] Jean Audard, « Du caractère matérialiste de la psychanalyse » (1933), Littoral 27/28 (1989), p. 208.
[36] Siegfried Bernfeld, Sisyphus or The Limits of Education (1925), Berkeley, University of California Press, 1973, p. 64.
[37] Wilhelm Reich, La psicología de masas del fascismo (1933), Ciudad de México, Roca, 1973, p. 27. Materialismo dialéctico y psicoanálisis (1934), Ciudad de México, Siglo XXI, 1989, pp. 10-15.
[38] Otto Fenichel, «Sobre el psicoanálisis como embrión de una futura psicología dialéctico materialista» (1934), en Ian Parker y David Pavón-Cuéllar (coord.), Marxismo, psicología y psicoanálisis, Ciudad de México, Paradiso, p. 229.