MIL PLATÔS vol.3 – por Jean-Clet Martin

Mil platôs, esse livro plural, não é um tratado de metafísica ou um simples ensaio de história das ideias. É, antes, um livro de magia, uma alquimia preciosa em que cada fórmula traça a cifra de uma metamorfose.

O que se trata de modificar sob a ação dessa metamorfose é a própria ideia de conceito, que nada tem em comum com a lógica de sua compreensão, tampouco com a de sua extensão. Nem interpretação nem explicação, o conceito só existe por variação, quer dizer, no fim das contas, por criação contínua.

Mas não basta definir a filosofia pela criação de conceito se, nessa mesma circunstância, nos eximimos de fazê-lo. Descrever conceitos não é produzi-los. Desse modo, esse livro de platôs superpostos fará com que penetremos no antro da feiticeira, no lugar onde Deleuze não se transforma em gato sem que Guattari se torne um rato, onde o rato se torna subitamente um tigre, o tigre vira pulga assim que o gato se metamorfoseia em micróbio. Fazer conceitos é questão de devir, um devir que, arrastando esta ou aquela determinação conceituai no declive de sua variação, produzirá mutações na vertente da estética, da política, da ciência, cujos mapas e transformações é impossível separar.

Um platô não é nada além disso: um encontro entre devires, um entrecruzamento de linhas, de fluxos, ou uma percolação — fluxos que, ao se encontrarem, modificam seu movimento e sua estrutura; é por isso que o mais importante dos operadores que este livro consegue construir concerne não ao relevo de um platô, mas àquele por meio do qual os platôs se chocam e se penetram, mudando todos os índices de ambiente e as coordenadas de território: é a desterritorialização.

Um conceito, assim como uma flor ou um inseto, tem seus ambientes e seus territórios. Toda uma etologia do conceito, por meio da qual não se pode mais separar seus componentes do ambiente concreto em que eles se depositam. O que ocorre, ao contrário, quando certo conceito é levado para um outro ambiente? Quais são os acontecimentos que ocorrem com os conceitos quando estes se desterritorializam?

A essa questão responde a ideia de ritornelo, uma ideia musical que proporá aos conceitos seu ritmo e seu canto, para posturas e acrobacias inauditas. Há, então, duas coisas muito diferentes: aquelas em que se tramam procedimentos éticos, etológicos, mas que ainda não são conceitos. São condições dos conceitos, dos gritos, dos cantos que os afetam. E, acima dos territórios e dos ambientes, ainda são necessários os processos, que são como gestos e posturas reagindo aos ambientes. O procedimento é um ritmo, ao passo que o processo é uma dança — duas asas que abrem para este livro suas longitudes e sua latitude.

Jean-Clet Martin

TODOS OS PDFS DA OBRA CONJUNTA DE DELEUZE E GUATTARI ESTÃO DISPONÍVEIS NA PÁGINA BIBLIOTECA DIGITAL.

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