O INCONSCIENTE MAQUÍNICO E A REVOLUÇÃO MOLECULAR – por Félix Guattari

Os comportamentos individuais e coletivos são regidos por múltiplos fatores. Alguns são de ordem racional – ou parecem ser – como, por exemplo, os que se podem tratar em termos de relação de força ou de relações econômicas. Outros, ao contrário, parecem depender principalmente de motivações passionais, sendo difícil decifrar suas finalidades e podendo, às vezes, conduzir os indivíduos e os grupos implicados a agir contrariamente aos seus interesses manifestos.

Há muitas maneiras de abordar esse “avesso” da racionalidade humana. Pode-se negar o problema ou reduzi-lo ao domínio da 1ógica habitual, da normalidade e da boa adaptação social. Considerar-se-á, afinal, que o mundo dos desejos e das paixões se reduz a uma perturbação no conhecimento objetivo, um “ruído”, no sentido em que a teoria da informação emprega esse termo. Dessa perspectiva, nada mais resta que tentar corrigir tais falhas, de modo a retornar às normas dominantes. Inversamente, pode-se considerar que esses comportamentos dependem de uma lógica diferente, que deve ser estruturada como tal. Em vez de abandoná-los à sua irracionalidade aparente, vamos então trata-los como uma espécie de matéria-prima, como uma espécie de mineral de que se podem extrair elementos essenciais à vida da humanidade, especialmente à sua vida de desejo e às suas potencialidades criativas.

Segundo Freud, esta era a tarefa à qual a psicanalise devia se dedicar. Mas até que ponto ela cumpriu esse objetivo? Tornou-se realmente uma nova química do psiquismo inconsciente, ou não passa de uma espécie de alquimia, cujos mistérios evaporaram com o tempo e cujas simplificações, cujo “reducionismo”, são cada vez menos tolerados, quer por ação de suas correntes ortodoxas ou de seus ramos estruturalistas?

Após longos anos de formação e de prática, fui chegando à conclusão de que a psicanálise devia reformar radicalmente seus métodos e suas referências teóricas, caso contrário estaria condenada a vegetar na esclerose e no conformismo que a caracterizam atualmente, ou até mesmo a perder toda credibilidade e a desaparecer completamente. O que, eu insisto, me pareceria prejudicial por muitas razões. Pouco importa, creio eu, que as sociedades, as escolas psicanalíticas e a própria profissão de psicanalista desapareçam, contanto que a análise do inconsciente subsista enquanto prática, segundo novas modalidades.

Em primeiro lugar, creio que é a própria concepção de inconsciente que deve ser revista. Não sei como é no México, mas na Europa o inconsciente faz parte da bagagem mínima de toda e qualquer pessoa.

Ninguém duvida de sua existência. Fala-se dele como da memória ou da vontade, sem se perguntar muito o que é, na verdade. O inconsciente deve ser alguma coisa que fica no fundo da cabeça, uma espécie de caixa preta onde estão armazenados os segredos íntimos. os sentimentos confusos, as segundas intenções suspeitas. Em todo caso, algo que deve ser manejado com cuidado.

Sem dúvida, os psicanalistas por profissão não se contentam com uma definição assim tão vaga. Exploradores ou conservadores de um domínio que consideram seu, eles têm ciúmes de suas prerrogativas. De acordo com eles, não poderíamos ter acesso ao mundo do inconsciente senão depois de uma longa e custosa preparação, depois de uma espécie de ascese extremamente controlada. Para ter sucesso, a análise didática, bem como a análise dos não iniciados, exige muito tempo e requer o estabelecimento de um dispositivo muito particular (relação de transferência entre o analista e o analisado, condução da anamnese e da exploração das identificações e das phantasias pela supressão das resistências e pela interpretação, etc.).

Este inconsciente, que se supõe existir no coração de cada indivíduo e ao qual, entretanto, nos referimos a respeito de tudo – neuroses, psicoses, vida cotidiana, arte, política, etc. –, seria, então, essencialmente um assunto de especialistas. E o que há de espantoso nisso? Atualmente, muitas coisas que, antes, pareciam pertencer ao domínio comum para todo o sempre, aos poucos acabam caindo nas mãos de especialistas. A água, o ar, a energia, a arte estão em vias de se tornar propriedades privadas!

E por que não a phantasia e o desejo?

É de uma concepção de inconsciente muito diferente que eu gostaria de falar hoje. Não de um inconsciente de especialistas, mas de um campo ao qual cada um poderia ter acesso tranquilamente e sem preparo especial, um território aberto de todos os lados às interações sociais e econômicas, diretamente ligado às grandes correntes históricas, e, portanto, não exclusivamente centrado nas disputas de família dos heróis trágicos da Antiguidade grega. Este inconsciente, eu o denominarei “esquizoanalítico”, por oposição ao inconsciente psicanalítico, porque se inspira mais no “modelo” da psicose do que no das neuroses a partir das quais foi construída a psicanálise. Eu o qualificaria igualmente de “maquínico”, porque não está essencialmente centrado na subjetividade humana, mas participa dos mais diversos fluxos de signos, fluxos sociais e fluxos materiais. Os antigos territórios do Ego, da família, da profissão, da religião, da etnia, etc., desfazem-se uns após os outros – se desterritorializam. Não existe mais nada evidente no registro do desejo. É porque o inconsciente moderno é constantemente manipulado pelos meios de comunicação, pelos Equipamentos Coletivos, pelos especialistas de todo tipo, que não podemos mais nos contentar hoje em defini-lo simplesmente em termos de entidade intrapsíquica, como fazia Freud na época em que elaborou suas diferentes tópicas. Isso não significa que o inconsciente maquínico seja necessariamente mais padronizado, mais “impessoal” ou arquetípico que o inconsciente tradicional. Sua missão é a de abranger tanto mais as singularidades individuais quanto “amarra” mais intensamente as forças sociais e as realidades históricas. Portanto, as problemáticas nele inseridas não poderiam mais depender exclusivamente do domínio da psicologia. Elas compreendem as “escolhas de sociedade” mais fundamentais: o “como viver” num mundo transpassado em todos os sentidos por sistemas maquínicos que tendem a expropriar toda singularidade, toda vida de desejo.

Convém notar, entretanto, que o novo modele de inconsciente aqui proposto não se opõe termo a termo ao antigo modelo psicanalítico. Retoma alguns de seus elementos, ou ao menos os reconstitui a título de variantes, de casos de figuras possíveis. Na verdade, existe uma fórmula de inconsciente circunscrito num espaço intrapsíquico fechado e no qual se acumulam materiais mentais recalcados por ocasião das primeiras fases da vida psíquica. Não se pode desconhecer que esse território imaginário, esse espaço maldito dos desejos proibidos, espécie de principado secreto, de Estado dentro do Estado, tende a impor sua lei ao conjunto do psiquismo e dos comportamentos. Essa fórmula de inconsciente privado, personológico, familialista, edipiano, teve, aliás, uma grande importância em nossas sociedades, pois nela se apoia todo o sistema de culpabilização, de interiorização das normas que permite que elas funcionem. Mas, eu repito, trata-se apenas de um caso de figura do inconsciente, e não de todo o inconsciente. Existem outras possibilidades de funcionamento e cabe a um novo tipo de análise descobri-las e promovê-las.

Lembramo-nos que no modelo freudiano o inconsciente resultava de um duplo movimento: de um movimento de repulsão dos “representantes pulsionais” que o consciente e o pré-consciente não podiam tolerar (enunciados, imagens, phantasias proibidas) e de um movimento de atração originado a partir de formações psíquicas recalcadas desde sempre no inconsciente: recalque primário. Os conteúdos marcados com o rótulo de proibido transitariam primeiro pelo consciente e pré-consciente e depois cairiam inelutavelmente nessa espécie de “inconsciente-descarga” que é regido por uma sintaxe particular denominada processo primário (exemplo dessa sintaxe: os mecanismos de condensação e de deslocamento que atuam no sonho). Nada, nesse duplo movimento, autoriza a possibilidade de processo criativo. Tudo está previamente determinado, todos os percursos estão marcados. De forma diferente do inconsciente maquínico, aberto a todos os possíveis, o inconsciente psicanalítico está programado como um destino.

No lugar de uma pesada maquinaria de dois tempos – sistema de recalque-atração do inconsciente clássico –, o inconsciente esquizoanalítico faz proliferar todo um conjunto de máquinas desejantes. Agora não se trata mais de “objetos parciais” tipificados – o seio, as fezes, o pênis, etc. –, mas de uma multidão de objetos singulares, heterogêneos uns em relação aos outros, articulando-se em constelações funcionais nunca redutíveis a complexos universais.

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Recapitulemos as principais características do inconsciente maquínico:

  1. Não é a sede exclusiva de conteúdos representativos (representação de coisas, representação de palavras, etc.), mas o lugar de interação entre componentes semióticos e sistemas de intensidade os mais diversos (semióticos linguísticos, semióticos “icônicos”, semióticos etológicos, semióticos econômicos, etc.). Em outras palavras, não corresponde ao célebre axioma formulado pelo Dr. Lacan, quando afirma que o inconsciente é “estruturado como uma linguagem”.
  2. Seus diferentes componentes não dependem de uma sintaxe universal. A disposição de seus conteúdos e de seus sistemas de intensidades (tal como pode se manifestar no sonho, nas phantasias, nas pulsões) é singular e não se presta a procedimentos analíticos reducionistas, do tipo complexo de castração, complexo de Édipo. Tais casos de figura existem, mas unicamente a título de casos particulares, ligados a tal ou qual área cultural ou social, ou a determinada estrutura psicopatológica que aparece em contextos bem definidos.
  3. As relações inconscientes que se estabelecem entre os indivíduos também não dependem de estruturas universais, como a corrente estruturalista moderna da psicanálise tentou estabelecer [espécie de teoria dos jogos da intersubjetividade, fundamentada no que Lacan denomina “matemas” do inconsciente (o grande outro (A), o pequeno outro (a), o ego, o ideal do ego, o ego ideal, o falo, a castração, etc.)]. Sem dúvida, as relações intersubjetivas e interpersonológicas ocupam uma posição essencial no interior dos agenciamentos inconscientes, mas não são tudo. Outras relações não menos essenciais ocorrem no seu interior. Sistemas de entidades abstratas (maquinismo abstrato), ladainhas musicais (por exemplo, a “pequena frase de Venteuil”, na obra de Proust), traços de rostidade que não pertencem propriamente às identificações humanas, traços de animalidade, de paisageneidades, sistemas maquínicos, econômicos dos mais diversos. Existe, em Paris, uma loja de departamentos que se chama La Samaritaine. Sua divisa é: “Encontra-se de tudo na Samaritaine”. A mesma coisa acontece com esse inconsciente maquínico. É absolutamente essencial que nele se encontre de tudo; só sob essa condição se poderá dar conta de seu caráter heteróclito e de sua sujeição à sociedade de consumo, bem como de sua riqueza criativa e de sua infinita disponibilidade às transformações do mundo.
  4. O inconsciente pode voltar-se para o passado e retrair-se no imaginário, mas pode igualmente abrir-se para o aqui e agora, ter escolha com relação ao futuro. As fixações arcaicas (narcisismo, instinto de morte, medo a castração, etc.) não são fatalidades. Não constituem, como pretendeu Freud, o rochedo derradeiro do inconsciente.
  5. O inconsciente maquínico, evidentemente, não é o mesmo em todo o mundo, e não pára de evoluir no decorrer da história. A economia do desejo dos trobriandeses de Malinowski não é idêntica à dos habitantes do Brooklyn, e as phantasias dos habitantes de Teotihuacán, na época pré-colombiana, não têm muito mais a ver com as dos mexicanos de hoje.
  6. As estruturas de enunciação analíticas relativas ao inconsciente não passam necessariamente pelos serviços de uma corporação de analistas. A análise pode ser um empreendimento individual ou coletivo. As noções de transferência, interpretação, neutralidade, fundamentadas na cura-padrão, também têm que ser revistas. Só são admissíveis em dispositivos muito particulares, dependendo de indicações provavelmente multo delimitadas.

Mas será que não existem, apesar das reviravoltas da história e das transformações tecnológicas e culturais, elementos estruturais que se encontram necessariamente em todas as formações inconscientes? As oposições eu-outro, homem-mulher, pai-filho, etc., não se cruzam de modo a constituir um crivo, uma espécie de matemática verdadeiramente universal do inconsciente? Em que medida a existência de um crivo desses viria necessariamente proibir a diversificação dos inconscientes?

Uma das maiores contribuições de Freud consiste em ter descoberto o fato de que o inconsciente não conhecia a negação, pelo menos não o mesmo tipo de negação que o da nossa lógica consciente. Assim, constitui um universo onde as oposições estritas que acabei de enumerar nunca são evidentes. Podemos ser, e até somos necessariamente, sempre ao mesmo tempo: Eu e Outro, homem e mulher, pai e filho… O que importa, agora, não são mais entidades polarizadas, reificadas, mas processos maquínicos, que, juntamente com Gilles Deleuze, denomino “devir”: “devir” sexual, “devir” planta, “devir” animal, “devir” invisível, “devir” abstrato. O inconsciente maquínico nos faz transitar pelos platôs de intensidade constituídos por esses devires, nos permite penetrar em universos transformacionais, quando tudo parecia estratificado e definitivamente cristalizado. Instala-se no lugar onde se entrelaçam os efetivos motores da práxis, isto é, antes da oposição realidade-representação.

Se acontece, por exemplo, de um paciente falar de seu patrão ou do Presidente da República para o seu psicanalista, este provavelmente só registrara identificações paternas. Por trás da balconista dos Correios ou da apresentadora de televisão, ele não perceberá nada mais do que uma imago materna universal. E, de modo mais geral, em todas as formas que se animam à nossa volta, ele reconhecerá sexos masculinos ou femininos, instrumentos de castração simbólica, etc. Todo este sistema de correspondência simbólica não deixaria de ter seu encanto, se não fosse tomado num único sentido. Pois se, por trás do patrão, às vezes está o pai – por isso mesmo que se fala em “paternalismo” –, por trás do pai de uma criança existe também e muito concretamente um patrão ou um superior hierárquico. A função paterna dentro do inconsciente é inseparável da inserção sócio-profissional daquele que é o seu suporte. Por trás da mãe, existe também um certo tipo de condição feminina dentro do contexto de um inconsciente social e político particular. A criança não vive dentro de um mundo fechado, que seria o da família. A família é permeável a todas as forças circundantes, a todas as influências do campo social. Os Equipamentos Coletivos, os meios de comunicação, a publicidade não param de interferir nos níveis mais íntimos da vida subjetiva. O inconsciente, insisto, não é algo que se encontra unicamente em si próprio, uma espécie de universo secreto. É um nó de interações maquínicas através do qual somos articulados a todos os sistemas de potência e a todas as formações de poder que nos cercam. Os processos inconscientes não podem ser analisados em termos de conteúdo especifico, ou em termos de sintaxe estrutural, mas antes de mais nada em termos de enunciação, de agenciamentos coletivos de enunciação. Estes, por definição, não coincidem com as individualidades biológicas. A enunciação maquínica circunscreve conjuntos-sujeitos que atravessam ordens muito diferentes umas das outras (os signos, a “matéria”, o espírito, a energia, a “mecanosfera”, etc.).

As reduções familialistas do inconsciente, a que estão habituados os psicanalistas, não são “erros”. Correspondem a um certo tipo de agenciamento coletivo de enunciação. Procedem de uma micropolítica particular relativa ao inconsciente. A mesma que preside a uma certa organização capitalística da sociedade. Um inconsciente maquínico muito diversificado, muito criativo, seria contrário à boa manutenção de relações de produção baseadas na exploração e na segregação social. É por isso que todas as técnicas de recentralização do inconsciente no sujeito individuado, e em objetos parciais reificados, impedem a sua plena expansão no mundo das realidades presentes e das transformações possíveis, e têm, atualmente, uma posição privilegiada dentro da gigantesca indústria de normalização, de adaptação e de esquadrinhamento do socius na qual se apoiam as sociedades capitalísticas. (Nas quais incluo as sociedades socialistas burocráticas.)

A divisão social do trabalho, a designação dos indivíduos a seus postos de produção não depende unicamente dos meios de coerção ou do sistema de remuneração monetária; mas também, e talvez de modo mais fundamental, das técnicas de modelização dos agenciamentos inconscientes operados pelos equipamentos sociais, pelos meios de comunicação, pelos métodos psicológicos de adaptação de todos os tipos. Nas sociedades pré-capitalistas a libido estava ligada a estruturas relativamente estáveis (família, profissão, castas, classes, etc.). Os novos modos de produção, a instauração de um Capitalismo Mundial Integrado, tendem inexoravelmente para a destruição das antigas estruturas territorializadas dos agenciamentos inconscientes. E a expansão tentacular do maquinismo tem como efeito o desenvolvimento de uma espécie de angústia coletiva, que leva, em contrapartida, ao reaparecimento de ideologias religiosas, de mitos arcaicos, etc.

É neste contexto que convém situar um certo conservadorismo da psicanálise atual. Entretanto, qualquer que seja a amplitude das operações subjetivas de freamento, de reterritorialização, que acabo de lembrar, a integração maquínica da humanidade continuará a avançar. Toda a questão está em saber segundo quais modalidades últimas ela se orientará. Irá, como atualmente, contra a corrente das linhas criativas do desejo e das finalidades humanas mais fundamentais – pensemos na imensa miséria, tanto física quanta moral, que reina na maior parte do planeta –? A economia do desejo, ao contrário, conseguirá ficar em harmonia com os progressos técnicos e científicos? Só uma profunda transformação das relações sociais em todos os níveis, um imenso movimento de “retomada” das máquinas técnicas pelas máquinas desejantes, o que eu denomino uma “revolução molecular”, correlativa da promoção de práticas analíticas e micropolíticas novas, permitirão alcançar um tal ajustamento; inclusive, o destino da luta das classes oprimidas – constantemente arriscadas a mergulhar em relações especulares com os poderes constituídos, a reproduzir relações de dominação – me parece estar ligado a esta revolução molecular.

Todas estas considerações, que não posso desenvolver mais extensamente dentro deste trabalho, me levam a afirmar que a análise do inconsciente deve se tornar “assunto de todos”. Significa que ela terá que renovar seus métodos, diversificar nas abordagens, enriquecer-se em contato com todos os campos da criação. Em resumo, fazer exatamente o contrário do que a psicanálise oficial faz atualmente.


FONTE

GUATTARI, Félix. IN: Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo, Brasiliense, 1981. Tradução: Suely Rolnik.

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