Este volume de Robert Castel constitui uma das críticas mais sérias feitas à psicanálise. Apesar de estar de fato inserida, por linguagem e estrutura, na cultura da qual se origina, a obra vai além das abstrações e dos jogos intelectualísticos de que costumam ser mestres e ensaístas franceses, para se debruçar sobre os pontos nevrálgicos sobre os quais repousa o andaime psicanalítico que apoia essa cultura.
Castel não se limita a inserir-se no debate entre lacanianos e antilacanianos, mas coloca o problema da psicanálise em relação à estrutura social e ao uso e sentido que ela praticamente assume.
O mérito do livro de Castel – escrevem Franco e Franca Basaglia na introdução – é tentar uma crítica do que é a prática da psicanálise, relacionando-a com a prática da qual se origina a teoria psicanalítica: a burguesia e seus valores. Isso salva o discurso de Castel do risco de propor uma ideologia substituta por meio de uma crítica de dentro do discurso psicanalítico que preserva seu caráter puramente ideológico.
Na Itália, o volume de Castel se insere no debate em curso sobre as responsabilidades dos intelectuais e dos “técnicos” como guardiões das instituições, alertando contra as mistificações da ideologia, que sempre se renova para deixar inalterada a realidade social que serve para ocultar, criando uma em sua própria imagem.
ROBERT CASTEL: O PSICANALISMO (1978)
Robert Castel (1933-2013), sociólogo e historiador, foi diretor de pesquisa da École des hautes études en sciences sociales. Seus trabalhos incluem Métamorphoses de la question sociale (1995) e, com Claudine Haroche, Propriété privée, propriété sociale, propriété de soi (2000). Para Einaudi publicou Lo psychocanalismo. Psicanálise e Poder (1975) e Insegurança Social. O que significa ser protegido? (2011).